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19 janeiro, 2014

Engordando silêncios desvendados

 e desmentindo o meu próprio segredo, confesso que nunca amei ninguém.

Love
Depois de um punhado de sorrisos ruborizados, com sabor de manteiga derretendo em corações escaldantes, saliento que nunca me apaixonei por uma alma sequer. 
Foram mil amantes eternizados pela nudez que surgia da melancolia mal polida, do platonismo envaidecido, mas jamais ouviu-se notícias de que em minhas veias corria o sangue lento dos sofredores, dos bravios que estufavam o peito para dizer um célebre, clichê, açucarado e cínico “eu te amo”. 
Faltou-me o ar, falta-me a voz e faltará amor. 

Do ser humano, apaixonei-me tão somente pelo ser. Ser único, ser racional com rachaduras nos dentes quando evita mordidas quase acidentais. Apaixonei-me sim, pelos ossos e dúvidas, pelas carcaças e perfumes, pelas cóleras e por cheiros esquecidos no travesseiro. Apaixonei-me pelos detalhes quando a realidade do todo, o amor como todo mundo vê, não pôde transformar-se em grafite gasto. 
Amo como quem namora folhas de papel. Borracha de um lado, arrependimento do outro e borrões molhados por todas as linhas, até que se acabe a paciência de tentar me fazer amar algo além do ser, do ser medíocre, do ser pessimista, do ser covarde. 
Covarde, mil vezes covarde. 
Demônios internos não vivem mais dentro de mim. Demônios internos escrevem, suspiram, florescem, mas desistiram de amar. Desistir. 
Desistir, “desexistir”, deixar de existir, deixar de ser. E se nada sou, eu torno a ressaltar: nunca amei ninguém, exceto espelhos negros e frustrações. Minhas palavras são curtas. Minha eternidade é pequena, meus pontos finais são reticências. Meu caminho é comprido, meu amor é longe, e meus pés nada mais sentem do que a dormência dos braços cruzados.

2 comentários:

  1. Deliciosamente escrito, chega a ser insuportável o quanto é possível partilhar disso como verdade.

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  2. Ainda bem.
    (:
    Valeu, Flavinha, volte sempre. Muito bem vinda! Beijos.

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