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31 maio, 2014

Eu fecho os olhos e conto mentalmente até três

Coração frágil

Sussurro para mim mesma que vai passar. Uma hora passa, sempre passa, tem que passar.

 O problema é que o tempo de duração cresce a cada vez que isso resolve acontecer. Aperto a minha mão contra o peito e tento fazer parar. É em vão. A dor é por dentro, o que torna tudo mais complicado. Não há remédio com 100% de eficácia para casos assim. A emergência do hospital não me socorreria. Os bombeiros, os policiais, os médicos de plantão, os psicólogos e os analistas também não. Ninguém tem total poder sobre isso. 
 Eu quero, tento, luto e persisto para fazer com que a dor suma. Mas ela aumenta. 

 A dor não possui amigos e, talvez, por isso, ela não perdoe ninguém. 

 Eu cruzo os dedos e torço para que a tortura acabe de uma vez por todas. Por obséquio, não decorem o caminho de volta. Tirem o meu nome da lista que vocês criaram para atormentar. Já chega, é demais para mim. 
 Tudo bem, talvez isso seja um teste da vida mostrando o quanto eu posso e consigo ser forte. Mas eu cansei de andar carregando o mundo nas costas sem ter como curvá-la. O cheiro de menina frágil que precisa de colo ainda marca a minha pele. A minha alma continua sendo levada como uma criança teimosa. 

Eu não tenho estrutura para sofrer.

17 maio, 2014

Volta pra mim com os cortes na boca e a falta de fôlego porque sim, eu te aceito.

 E eu reparo teus danos e te refaço pro mundo, para que você voe novamente, e parta sem mim. Porque dentro do amor eu percebi que não há nada nosso, nem as noites em que cantamos a tristeza e reverberamos a solidão, nem o vulto da eternidade no teu pé errante. 
Não há nada que eu posso dizer que tive nos momentos onde a intensidade disse os verbos e nós proferimos o infinito. 
Volta para mim, não, não volte para mim, erre o caminho que os descaminhos são paralelos.
 Volta, não, não volta. 
Volta, que os eixos nas suas costas me dizem sobre o amor que gangrenamos nas mãos quando o sorriso não preencheu. E eu canto o que Drummond diz.
E eu faço dos versos nosso colete anti-monotonia e te abraço para nunca mais existir. Porque o belo não existe, além do brilho que há no invisível, através da retina do olho claro de sol que você tem. 
Volta para mim que os dias têm esmagado meus punhos, e eu tenho visto miúdo o que se vê brando e claro; meus lábios pararam no tempo. Volta antes. Antes da terceira guerra mundial iminente, antes que outro meteoro caia e desta vez aqui, aqui. Volta antes que eu agonize sua lembrança e refaça sua imagem turva e deturpada, antes da aurora-boreal encandecer o céu da Noruega, antes que eu e a sepultura conversemos sobre como andam os planos pro meu futuro. 
Não, não volta agora, estou desbotando todo destino. Canta para mim, canta Chico, e não volte enquanto o teu brilho não satisfazer meus dramas renegados. Eu te amo.. como um mantra que eu não soube pronunciar. 

I love you ❤️

“Se mil vezes você ir e voltar, eu te aceito… eu te aceito.”

05 maio, 2014

E então começa tudo de novo:

a rotina. Acordar cedo, tomar um leite morno de mal humor, cumprimentar o motorista por educação, ceder o lugar no ônibus a alguma senhora de idade porque é preciso.
Rotina é ruim. Qual a graça de frases feitas? O bom da vida é dizer coisas fora de hora, de sintonia e de espaço. Abraçar ao invés de estender a mão. Acompanhar até em casa ao invés de dar tchau no portão. Entrar em um restaurante aleatório ao invés de preparar sempre o mesmo prato. Sorrir para um estranho que chora. Chorar de felicidade instantânea.

mudança | via Tumblr

São as pequenas coisas do dia que o determinam. Mesmo que a gente não tenha mais tempo de olhar pro céu logo de manhã, ou de olhar nos olhos da pessoa que está sentada ao nosso lado na estação do metrô. Mesmo assim, a gente precisa tirar um tempo para olhar para nós mesmos. Pro que fica dentro, longe dos olhos superficiais alheios. Pro silêncio que nos ecoa quando a cidade grita e o relógio não gira no sentido horário. 
A gente precisa mudar o percurso do trabalho, da escola ou da faculdade de vez em quando para descobrir que existem outros trajetos. E outras pessoas. E outras histórias no meio das ruas paralelas que quase ninguém vê. A rotina pode ser mais fácil, mas sempre existem opções melhores para dias melhores. 
Não caia na comodidade: ela, por si só, já é a própria loucura.