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27 abril, 2012

Uma noite e um miojo


           "Amar apaixonadamente sem ser correspondido é que nem estar num barco e enjoar: você acha que vai morrer mas nos outros só provoca risadas", eu li certa vez... é do escritor Alejandro Gándara que, diga-se de passagem, teve uma lucidez esmagadora ao escrever isso. É mesmo: sofrimentos amorosos costumam provocar nos espectadores um sorrisinho meio gozador, meio piedoso. E, apesar desse comportamento dos outros, a dor de um sentimento desprezado é tão aguda! É um desespero que deixa alguns doentes, uma desolação que deixa outros vazios. 
           Parece curioso que os seus amigos não levem muito a sério um sofrimento que para você é tão profundo; e ainda mais curioso que você também não se comova demais quando quem sofre são seus amigos. Porque será que, quando não estamos mergulhados no martírio do desamor, damos tão pouca importância a essa desgraça? Será que no fundo da nossa consciência sabemos que a paixão  amorosa é um invento, um produto de nossa imaginação, uma fantasia? E que, por isso, essa dor que nos queima por dentro é de alguma maneira irreal? 

            Como uma pessoa apaixonada, vivi repetidas vezes essa insuportável dor amorosa que afinal você acaba sempre suportando.
           Meu primeiro amor, que eu me lembro bem do sofrimento, foi aos 15 anos. Como eu ainda era muito jovem, estava convencida de que nunca jamais em tempo algum encontraria um homem de quem gostasse tanto. Os outros varões da Terra desapareceram para os meus olhos: três bilhões de seres se apagaram de repente. As outras vezes que eu sofri foram bem parecidas com essa primeira vez: era um sofrimento tão obsessivo e doía tanto que tive que me esforçar para não pensar nele. E não conseguia pensar nele sem sentir um gosto de metal na boca... Suportava a minha dor como se estivesse atravessando um campo minado: quando pensava em outra coisa, a vida prosseguia com normalidade, quase feliz. Mas de quando em quando alguma coisa me fazia pensar nele, ou seja, pisava numa mina sem querer: e a explosão me deixava com as tripas de fora durante certo tempo.
           Mas a vida é tão tenaz que, passando alguns meses, até mesmo essa dor inesgotável se esgotou. Os três bilhões de homens terrícolas tornaram a materializar-se no planeta e eu me apaixonei e desapaixonei por alguns deles diversas vezes.
          Eu lembro desses momentos de desolação, ou melhor, de desespero... 
Algo arde ferozmente dentro da gente quando a gente perde um amor, ou é desprezado, ou abandonado. Como se nosso coração se transformasse numa lesma na qual jogaram sal.
          No fim, eu me rendo. Após ficar alguns meses jogando as luzes deslumbrantes da paixão sobre um dos três bilhões de homens da face da Terra, apago os refletores e decido esquecer. Passo algum tempo procurando em outros homens, sem querer (?), a mesma cor de olhos, lábios parecidos... depois, tudo começa a se perder no horizonte até ser engolido pela linha do tempo.
          Se já não me reconheço a mim mesma na garota de 15 anos que fui, como posso reconhecê-los, que sempre foram estranhos?
          Um dia você está olhando conjunto de panela e pesquisando preço aluguéis de casas com seu namorado e no outro está solteira em casa fazendo miojo e escrevendo num blog. É a vida, gente.

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4 comentários:

  1. Nada como o tempo para curar as feridas... Puta clichê, mas é verdade!

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  2. é exatamente isso polly, que maravilha que é a vida, vamos e voltamos e continuamos indo.... espero que um dia, saibamos pra onde....kkk

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