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18 fevereiro, 2012

Hoje que eu vi um estranho morrer.


Hoje eu vi um estranho morrer. Falarei sobre a morte.

Falar sobre a morte é uma tarefa difícil tendo em vista que é a análise de uma realidade, até certo ponto, irreversível no mundo dos vivos. A morte sempre chega de surpresa, achem o que acharem dos casos de doença. A MORTE SEMPRE CHEGA DE SURPRESA.

No universo racional dos homens, pode-se afirmar que a única certeza da vida é a morte.
Para falar de verdade sobre o tema da morte, precisamos conhecer o responsável pelo pensamento que passou a acompanhar a morte a partir do século XX, trata-se de Edgar Morin, o criador da teoria da Complexidade.
A definição da Complexidade:
A Complexidade é um tecido de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. A complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal. Mas então a complexidade, apresenta-se com os traços inquietantes da confusão, do inextricável, da desordem, da ambigüidade, da incerteza... Daí a necessidade, para o conhecimento, de pôr em ordem nos fenômenos ao rejeitar a desordem, de afastar o incerto, isto é, de selecionar os elementos de ordem e de certeza, de retirar a ambigüidade, de clarificar, de distinguir, de hierarquizar... (MORIN,2001:20).
E a morte? Na terminologia do léxico significa: o fim da vida, fim, grande pesar. (HOUAISS,2001:303).
O horror da morte é a emoção, o sentimento ou a consciência da perda de sua individualidade. Emoção-choque, de dor, de terror ou horror. Sentimento que é de uma ruptura, de um mal, de um desastre, isto é, sentimento traumático. Consciência, enfim, de um vazio, de um nada, que se abre onde havia plenitude individual, ou seja, consciência traumática. (MORIN,1997:33).

A Galera em Rio Grande da Serra
Entendida essa parte, prossigamos:

Hoje, eu e a galera fomos fazer uma trilha pra pegar cachoeira em Rio Grande da Serra.
Exemplo das
 dificuldades no 
percurso

Daí tava tudo muito bem.. até que algumas dificuldades no percurso começaram a dividir a galera; uns queriam descer mais e pegar a melhor parte da cachoeira, outros queriam ficar na parte menos legal e evitar os barrancos e a fadiga, afinal, já estávamos cansados.
Resolvemos parar em um lugar com várias pedras para comer e, então, decidir o que fazer depois. 


Acima, na cachoeira, haviam 2 outras quedas d'água pelas quais já havíamos passado, mas que estavam sendo ocupadas por outros grupos. Um deles estava em nosso campo de visão, o outro não; estavam a uma certa distância alcançável quando indo pelas pedras do rio, mas não nos ouvíamos por causa da cachoeira (espero que consigam visualizar isso).

Meus pés, meia e tênis estavam beeeeeeeeeeeem molhados, então eu tirei tudo e deixei no cantinho pra secar e comecei a comer. 
Um dos nossos amigos e líder do nosso grupo se aproximou do Samuel e de mim para conversarmos, de repente, vimos o grupo mais próximos sinalizar perguntando se tínhamos um celular com sinal (o que era praticamente impossível pois tínhamos decido mais de 40 minutos no meio do mato na serra). 
Olhei pra clareira acima da queda e vi meninas do outro grupo que choravam tapando o rosto e se abraçando.. uma cena desesperada. 

Imaginei que alguém havia se machucado. Rapidamente, o Samuel e Marquinhos começaram a subir pelas pedras da cachoeira pra alcançá-los. Eu pensei que com meus conhecimentos básicos em primeiros socorros, resgate e ressuscitação (sim, eu tenho esses cursos) eu poderia ajudar e fui também subindo descalça, de celular na mão (eu tinha pego ele pra ver se tinha sinal). Pedi pro Samuel gritar os 'sintomas' pra mim enquanto eu ia atrás deles.
Quando eu cheguei lá.
Quando eu alcancei o local em questão, depois de subir uma parede de escalada com água caindo e descalça, eu vi.
Eu o vi. (tudo isso aconteceu em pouquíssimos minutos, tentem acompanhar)
Eu vi o corpo de um rapaz, mais ou menos da minha idade. Ele estava deitado, barriga pra cima, braços abertos, camisa levantada na altura do pescoço. Fui até lá.
A primeira coisa que eu notei foi o abdômen bem inchado e o sangue escorrendo no ouvido. Não tinha pulso em lugar nenhum. Inconsciente. Pupilas dilatadas. E a língua inchada impedindo qualquer passagem de ar.
Não tinha nada que dava pra fazer ali. Arrisquei até uma massagem cardíaca, mas ele estava tão rígido que nem se mexeu com o peso das minhas mãos. Fiquei lá olhando o corpo do rapaz. 
Os amigos em desespero tentavam explicar (pra ver se conseguiam entender, também) o que tinha acontecido.
E eu fiquei lá vendo o rapaz morto. Espantando os insetos que insistiam em pousar no rosto dele, nos olhos e na boca meio abertos, pálido feito cera, extremidades azuladas.
Fui falar com os amigos dele e sugeri pra alguns deles voltarem e avisarem as autoridades enquanto outros 2 ficariam com... o corpo. Alguém conseguiu algum sinal no celular e avisou a polícia, mas sozinhos era difícil adivinhar onde estávamos.

Foi nessas que uma das amigas dele olhou pra mim e perguntou:
- Ele está bem?
E eu respondi sinceramente e olhando nos olhos dela:
- Ele não volta mais.
- Como eu vou contar isso pra mãe dele! Não pode ser! (choro)

Nosso corpo é frágil. Ossos quebram, fazem barulho. O que protege nosso coração, o órgão, é uma gaiola de ossos. É uma bagunça. Seguimos a lei. Evitamos armadilhas. Choramos. E somos quebráveis. TODOS NÓS.
E temos medo. Medo de falhar. Medo da dor. Medo da rejeição.

Enfim, com tudo isso, eu só tenho um conselho, ou algo a declarar:
NÓS TEMOS QUE COMETER ERROS. NÓS TEMOS QUE APRENDER NOSSAS LIÇÕES. TEMOS QUE OLHAR POR NÓS MESMOS. 
MESMO QUE DECIDAMOS VARRER A POSSIBILIDADE DE HOJE PRA DEBAIXO DO TAPETE DO AMANHÃ ANTES QUE NÃO POSSAMOS MAIS.
E QUEM DISSE A FRASE 'O que você não sabe não pode te machucar' FOI UM COMPLETO E TOTAL IDIOTA. NÃO SABER É O PIOR SENTIMENTO DO MUNDO.
NÃO INVENTE DE CUIDAR DOS OUTROS SE VOCÊ NÃO CONSEGUE CUIDAR DE VOCÊ. PORQUE SE DEDICAR INTEGRALMENTE À OUTRA PESSOA SIGNIFICA QUE, NO FIM DO DIA, VOCÊ SÓ TEM A SI MESMO E NADA PODE SER MAIS SOLITÁRIO QUE ISSO.
FAÇA COM QUE ALGUÉM ENTRE E TE FAÇA SENTIR QUE VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO.
ATÉ QUE ENTENDEMOS: APESAR DE NOSSAS MELHORES ESCOLHAS E A MELHOR DE NOSSAS INTENÇÕES, A MORTE SEMPRE VEM DE SURPRESA. 

2 comentários:

  1. oi. estive aqui e dei uma olhada. interessante. apareça por la. abraços.

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