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16 setembro, 2013

Combinamos.

Combinamos que não era amor. 
Escapou ali um abraço mais forte no meio do escuro. Mas aquilo ali foi só sono, foi a inércia do amor que estava no ar mas não necessariamente em nós... Nem sei o que foi aquilo. 
A gente foi a shows, bares, cursos e essas coisas que namorados fazem. Mas amigos fazem também, não? Somos amigos. Escapou ali uma mão que quis esquentar a outra, mas a gente fez parecer nada, como sempre. 
A gente combinou que não era amor. Você abriu minha coca-cola, comeu meu doce predileto e fuçou as minhas músicas no celular enquanto estávamos no trânsito. Mas ainda assim e com todo o resto, não somos íntimos. Nada disso. Só estávamos reunidos nesses momentos, porque tínhamos uma coisa muito simples em comum: nada melhor pra fazer. Só isso. É o que está no contrato. E eu assino embaixo. Melhor assim. Muito melhor assim. Tô super bem com tudo isso. Nossa, nunca estive melhor!


Mas não faz isso! Não me olha assim e diz que vai refazer o contrato. Não faz o mundo inteiro brilhar menos só porque você é bobo. Não faz o mundo inteiro ficar pequeno só pelo prazer com ela. Não me deixa assim, deslizando pelas paredes no chuveiro de tanto chorar porque fico imaginando bobagens. Não transforma assim o mundo em um lugar mais difícil e ruim de se viver. Não faz eu ser assim tão absurdamente triste só porque eu tenho certeza absoluta que nenhum segundo ao seu lado é por acaso. Nunca foi acaso.
Combinamos que não era amor e realmente não é. Mas esse algo que é, é realmente muito libertador. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua ausência, o resto todo vira uma grande comédia. E aquele cara mais novo, e aquele outro mais velho, e aquele outro que escreve, e aquele outro que faz filme, e o outro que tira fotos, e aquele outro divertido, e aquele outro da festa, e aquele outro amigo daquele outro e todos aqueles outros viram formiguinhas. 
Coitado do resto do mundo! Adoro como o mundo fica coitado, fica quase, fica de mentira, quando não é você. Porque esses coitados todos só serviram pra me lembrar o quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz, ainda que você faça tudo sendo um grande aproveitador, insensível e pilantra. O quão sagrado é abrir mão de evoluir só porque andar pra trás é poder cruzar com você de novo. 
Não é amor não. É senso de destino compartilhado. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre. E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho. E eu tive que me fantasiar de outra só pra ter você aqui dentro sem medo. 
E eu vou continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder sair por aí com a casca de não amor ao seu  lado. E eu vou rir quando você me contar coisas e eu vou continuar dizendo “Boa noite, boa ideia, não precisa, legal, demais, bom ensaio, ficou ótimo, parabéns, vamos sim, tudo bem, sem problema, beijo”. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora. Porque no nosso contrato, tomamos cuidado em escrever com letras maiúsculas: NÃO EXISTE NINGUÉM AQUI DENTRO. 
Mas quando, de vez em quando, esse ninguém se oferecer pra qualquer coisa, ou me estender a mão, ou puxar assunto, ou esquecer o olhar em cima de mim, ou me criticar pra demonstrar atenção só para eu me enganar, eu vou deixar... Vai que um dia você acredita.

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